terça-feira, 10 de maio de 2011

8 de abril de 2011

Sexta-feira, dia seguinte do episódio mais trágico da nossa história. Chegamos na escola, eu e todos os demais professores muito abalados. Então, resolvemos iniciar nosso dia reunindo as crianças do andar para fazermos uma oração. Foi um momento único. Após a oração do Pai Nosso, perguntei se alguma criança gostaria de fazer uma oração especial e espontaneamente, uma aluna da Educação Infantil se dirigiu a mim e disse que gostaria, e a oração foi a seguinte: "Papai do Céu abençoa todas as criancinhas que morreram, abençoa as criancinhas que estão no médico, e todas as famílias também. Em nome de Jesus, amém!" Todos repetimos com nossos corações repletos de grande emoção e combinamos que teríamos um dia especial, todo pensado e voltado para o sentimento de paz. Em respeito as vítimas usamos um coração enlutado, mas propus que as crianças fizessem desenhos sobre a paz, além da pomba feita de papel branco, que elas levaram para casa na hora da saída. Aproveitei os moldes das pombas e montei um painel na parede com os desenhos de todas as crianças que estavam naquele momento. Aliás, apesar da dor, preocupação e angústia, conseguimos passar um dia em paz.




Roda de leitura - bullying na escola


Tempos depois, a direção da escola adquiriu uma coleção chamada “Bullying na escola” e a professora chamou o grupo novamente para uma roda de leitura, para que as questões fossem melhor compreendidas e as soluções analisadas. Os alunos chegaram à conclusão que para evitar problemas futuros ou maiores seria preciso a prática de uma só palavra: respeito.
 
 

Bullying na escola – atitudes positivas dão certo!

Esta é uma história real que teve um final feliz. Jessica, aluna nova na escola, veio compor a turma de Projeto Acelera 1A, devido a sua defasagem ano/idade, trazendo não só a necessidade de atendimento pedagógico diferenciado, mas também emocional, devido às particularidades familiares, que a maioria dos alunos do projeto apresenta. Só que logo após o início do ano letivo, alguns colegas de outra turma começaram a rejeitá-la, criando rótulos de acordo com suas características físicas, e num encontro no banheiro, as meninas da outra turma a chamaram de “Preta Gil”. Sem conhecer o grupo de alunas, pediu ajuda de uma colega da turma para defendê-la. O clima esquentou! Houve discussão e ofensas, mas o assunto ficou por lá mesmo. Alguns dias passaram e a professora da turma notou a aluna mais calada e triste, e ao ser perguntado o que estava acontecendo, ela começou a chorar dizendo que não aguentava mais ser chamada “daquele nome”. Então, os outros alunos contaram o início da história. Jessica já estava sendo chamada de “Preta Gil” até por outros alunos menores, que nem estavam envolvidos no evento inicial. A professora, que já havia trabalhado o tema identidade, valorização do nome e a história de cada um, teve uma conversa com a turma a fim de minimizar a situação, afinal, não temos nada contra a artista Preta Gil, mas a aluna fez questão de dizer que gostava do nome dela e não queria ser chamada pelo nome de outra pessoa, sabia que era negra, mas não queria ser chamada de preta. Percebendo que a história poderia se transformar num caso de bullying devido ao sofrimento demonstrado pela aluna, a professora resolveu intervir de outra forma: foi até a turma que iniciou o caso e conversou com eles sobre as palavras preconceito e bullying, pediu para que os alunos apresentassem uma solução para resolver a questão provocada por eles, e deu um prazo de três dias para a entrega da decisão por escrito. Os alunos da turma ficaram preocupados, fizeram uma reunião, escolheram um representante para escrever o documento e pediram a professora da turma para corrigir  e passaram a limpo. No dia combinado, o grupo levou o documento até a sala da aluna Jessica, e apresentaram para a professora que leu em voz alta para a turma. Firmaram ali um compromisso. O documento foi para o mural de mensagens e nunca mais Jessica foi chamada “daquele nome”.